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Eco sustentável

Orson Wells

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Rentáveis transformações

A procura de mangas está a aumentar, mas a sua distribuição irregular e os problemas pós-colheita fazem com que seja um sector difícil de gerir. A transformação deste fruto delicioso, mas rapidamente perecível pode ser a chave para os produtores dos países ACP.
A mangueira (Mangifera indica L.) é na sua essência uma árvore dos países ACP. Cresce em abundância em muitas partes de África, das Caraíbas e do Pacífico, embora as suas variedades difiram largamente. O seu fruto é rico em fibras, vitamina C, polifenois e carotenóides. Nos últimos anos assistiu-se a um elevado acréscimo na procura de mangas na América do Norte e particularmente na Europa, onde as importações aumentaram mais de 200% desde 1985. Porém, ainda que sejam produzidas enormes quantidades de mangas todos os anos, a alta perecibilidade e um sistema desadequado e deficiente de transporte fazem com que a maioria da produção seja consumida a nível local. Quantidades substanciais ficam simplesmente a apodrecer debaixo das árvores.
As exportações são apenas uma fracção mínima da produção total de mangas. Em 2007 produziram-se mais de 33 milhões de toneladas, a nível mundial, mas apenas 850 000 t foram exportadas. O Brasil e o Peru dominam o mercado mundial em 70%. A cota do mercado da UE dominadas pelos países ACP aumentou de 11% em 2005 para 14% em 2006, com a África Ocidental a atrair cada vez mais o interesse dos compradores europeus. Embora estejam em curso alguns trabalhos e esquemas de normalização, em países como Burkina-Faso e Mali, a certificação de mangas dos países ACP ainda está bastante aquém das certificações de outros frutos. Os maiores desafios continuam a ser assegurar uma qualidade uniforme e adquirir sentido de oportunidade de forma a evitar os excedentes de aprovisionamento, e, consequentemente, a redução de preços.
Abundância ou escassez
Exportar e abastecer mercados externos, com mangas frescas, é arriscado e envolve grandes dificuldades. Este facto deve-se ao reduzido e irregular ciclo de frutificação das variedades locais prevalecentes e, consequentemente, a períodos sazonais de excesso e escassez de produção. Outro factor limitante é a irregularidade da qualidade da fruta produzida em épocas diferentes. Os mercados são dominados por cultivares comercialmente desenvolvidos, como Julie, Tommy Atkins, Haden, Kent e Keitt. O transporte deste fruto bastante perecível e a sua grande vulnerabilidade à mosca da fruta são outras dificuldades a ter em conta. Os regulamentos exigentes da EU, para a importação, determinam que uma única peça de fruta contaminada se traduza num lote inteiro rejeitado.
A transformação é a resposta para muitos destes problemas e oferece um bónus de valor acrescentado. Actualmente apenas 0,22% das mangas produzidas a nível mundial são transformadas. No entanto, este versátil fruto pode dar origem a uma enorme variedade de produtos. A manga verde pode ser usada para fazer chutney e pickles. Quando madura, pode ser enlatada, congelada ou transformada em puré para posterior preparação de sumo, polpa, néctar ou compota. A manga seca para ser usada em barras de frutos, muésli, snacks e comida para bebé tem um bom potencial, especialmente na Europa, que representa o maior mercado mundial destes produtos.
A transformação em pequena escala já existe em muitos países ACP. No Benim algumas microempresas são geridas por jovens, principalmente mulheres. Léa Medji, dona da Mon Petit Bénin em Cotonou, mostra-se muito interessada em exportar, referindo: "Temos potenciais clientes na Europa e especialmente nos EUA, mas o facto de não conseguirmos analisar os valores nutricionais e não termos embalagens Tetra Pak causa alguns problemas", disse. O Centro Songhaï em Porto Novo desenvolve acções de formação versando temas como a tecnologia de transformação da manga e marketing, dirigida a pequenos agricultores e produtores. Nas Ilhas Vanuatu, no Pacífico de há empresas locais que vendem manga seca fatiada ou conservada em calda.
No Senegal estabeleceu-se uma unidade para a produção de vinagre de manga e na Jamaica o Conselho de Investigação Científica desenvolveu diversas linhas de transformação, incluindo uma bebida estimulante com base na manga.
Explorar os mercados locais
Em países como o Haiti e a Nigéria está em curso o método de secagem solar de mangas. Nos Camarões, certas técnicas de secagem foram testadas com sucesso nas regiões de Garoua e Maroua. No Burkina-Faso, um projecto-piloto levado a cabo pelo CIRAD dá apoio aos agricultores no sentido de desenvolver formas de produzir manga seca de alta qualidade para exportação. A uma escala maior, há perspectivas para criar unidades de secagem em Bamaco, Yanfolila e Bougouni, no Mali, com capacidade para transformação de 100 t ano/unidade. Em Junho de 2007 instalou-se em Orodara, no Burkina Faso, uma fábrica denominada DAFANI para a produção de sumos a partir de manga e outros frutos tropicais. Há boas perspectivas e esperam-se mais iniciativas. Nas regiões turísticas ACP, o sumo de manga produzido a nível local poderia substituir os produtos importados se fosse assegurado um fornecimento regular. No Quénia, a empresa familiar produtora de sumos Kevian é um exemplo disso, substituindo o concentrado importado por manga adquirida a fornecedores locais. Os chutneys podiam ser adaptados aos às preferências locais. Na África do Sul, o Agricultural Research Council desenvolveu algumas máquinas para pequenas indústrias, destinadas a fabricar pickles a partir da manga. Este fruto é um excelente agente para tornar a carne mais tenra e óptimo para marinadas como o, um pó amargo de manga usado na Índia.
Apesar do grande potencial, não há dúvida que continuam a existir muitos obstáculos à transformação deste fruto. "A grande variedade de mangueiras, com as suas múltiplas características e deficiências, afecta a qualidade e a uniformidade dos produtos transformados", observa a FAO num relatório. A falta de equipamento de despolpa da manga madura é um sério obstáculo ao aumento da produção. E depois há a mosca da fruta… No Burkina-Faso, Souleymane Karambiri do instituto de investigação agrícola INERA afirma que uma nova espécie de mosca da fruta é o principal obstáculo à expansão da exportação da manga. Dieudonné Manirakiza, director-geral da DAFANI, descreve a época de 2008 como 'medíocre'. Cerca de 50% das mangas compradas aos produtores tiveram de ser deitadas ao lixo por causa do insecto. "Tivemos de parar a produção de sumo devido à falta de matéria-prima",
queixou-se.

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